Luciane Bernardes
Acordei! Puxa logo agora! Senti toda a umidade do meu corpo que estava mobilizado pelo sonho.
A cena: no chuveiro prensada contra a parede, sentido o gelado do azulejo nos meus seios e os beijos que vinham na minha nuca. O homem desconhecido, levantou o meu cabelo, puxou um pouquinho para trás, me olhou fundo. Olhos de um azul límpido. Encontrou a minha boca e enfiou toda a sua língua. Se afastou, abriu levemente as minhas coxas, eu me empinei e ele e me penetrou, senti aquela sensação gostosa do sexo dele invadindo o meu. Gritei de tesão, quase gozando.
Olhei para o lado, a cama vazia. Fazia tempo que eu não dividia as minhas noites. Tinha uma saída para todo aquele gozo represado, o meu querido Rabbit. Abri a gaveta da cômoda, ajustei as pilhas e pronto me joguei na fantasia do chuveiro com o meu ex. Gozei gostoso, imaginando aquela cara safada dele. Nessas horas eu achava que ele ficava com cara de guri que fez arte. Era gostoso vê-lo assim.
Lembrei que para Freud o sonho é uma realização disfarçada de um desejo. Eu queria aquele homem de novo. Mas agora eu não tinha tempo para pensar sobre isso. Era segunda.
Entrei no chuveiro, decidi que a minha segunda-feira começaria em alto estilo, sapatos novos e maquiagem impecável. Gosto do brilho que eu fico depois que eu gozo. Acho que isso emana uma energia que contagia. Queria utilizar essa pulsão para o meu dia que seria cheio.
Cheguei no hospital e a lista de pacientes para serem atendidas por mim estava em 8. Foquei nos problemas das minhas pacientes, canalizei toda a minha energia para o trabalho. Quando eu vi já eram duas horas da tarde; eu tinha fome, precisava almoçar.
Desci até a cantina do hospital, me servi de salada e um grelhado, respirei fundo e me concentrei para virar a chave e esquecer um pouco os dramas das pacientes. Só hoje dois novos diagnósticos pesados. Com tratamentos que serão desafiadores. Era preciso relaxar, para ter uma boa digestão. Minhas pacientes têm minha total atenção na consulta e quando precisam de mim. Mas fora desse papel desviro a chave, senão não consigo ajudá-las.
E aquele sonho de manhã? E aquela vontade de ver o Alex de novo?
Quando foi a última vez mesmo? Seis meses atrás. Ele estava ocupado na sua vida de surfista e cabana. Eu o tinha visto na praia com aquele bronzeado que o deixava lindo, cabelos crescidos e brilhantes como o sol. Esse era o problema. A inabilidade dele em crescer. Seria sempre aquele menino inconsequente, com ar de super-herói de araque. Lindo para viver uma, duas ou meia dúzia de noites. Mas não dava para pensar em levar uma vida inteira com ele. Minha avó já tinha me advertido disso. Eu sabia que ela tinha razão.
Ele será para sempre o meu amor, isso é fato. Mas é uma fantasia. Eu preciso dizer adeus a isso. Quem sabe faço um perfil no Tinder?
Hoje eu tô é bem louca!
Vou pegar um café e subir.
Na saída do restaurante tropecei em quase dois metros de pura sensualidade. Olhei para aqueles olhos azuis, e ele me disse:
— Perdón señorita!
Eu não consegui dizer nada. Uma faísca de calor invadiu o meu corpo. Eu já tinha visto aquele azul pela manhã.